11 junho, 2006

Caminhar com o Espírito Santo

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Desafios da Fé
> Texto: Paulo Jorge Coelho

Quem é o Espírito Santo?

É o Espírito Santo Quem nos dá tudo e nós pouco o conhecemos!
É por Ele que podemos dizer com fé: “Jesus é o Senhor!” (1 Cor 12,3), é Ele quem nos faz rezar pelos outros e chamar a Deus “Abba, Pai!”.
É o Espírito quem nos faz amar, Ele que é o amor. Por Ele podemos cumprir a vontade do Pai sempre que nos deixamos conduzir por Ele tal como Jesus o fez, na sua retirada para o deserto, lugar de reflexão sobre a sua vida, de oração pessoal, de diálogo com o Pai e, também, tal como Jesus no baptismo no rio Jordão, onde aceitou a nossa condição de homens, de pessoas que somos com os nossos projectos e sonhos...
Do Espírito Santo não temos, propriamente uma imagem ou uma figura, facto que nos traz algumas dificuldades para O podermos reconhecer e compreender.
É que de Jesus temos uma figura e uma imagem: figura, pois Ele fez-se homem como nós, cresceu como nós, teve os seus amigos, teve a sua história, teve a sua Mãe (...), e temos a Sua imagem, pois temos muitas representações em pinturas de vários autores, em esculturas, e, por aí, cada um pode olhá-Lo, contemplá-Lo, imaginar como eram os seus olhos, a sua face e até, quem sabe, dar-lhe um sorriso...
Do Pai, não conhecemos nenhu-ma figura, mas temos a imagem do Seu Filho. Por termos experimentado quem é o nosso respectivo pai, como são os bons pais, podemos elevá-lo até ao infinito do Pai, que é Deus Pai.
Do Espírito Santo não temos figura nem imagem, por isso temos que recorrer aos símbolos que aparecem na Bíblia e na Tradição da Igreja: Vento, fogo, água, pomba... O Espírito, como o vento, não se deixa “fotografar”. Se queremos “filmar” o ar teremos que captar alguma coisa que esteja a ser movido por ele nesse instante: por exemplo uma bandeira, uma folha de uma árvore... Agora, se queremos conhecer pessoalmente o Espírito Santo teremos que o “surpreender” no bem que nós fazemos quando Ele nos move: nas acções que nós fazemos, nos pensamentos que projectamos, no nosso trabalho diário, nas actividades em que estamos inseridos... É que o Espírito só se faz conhecer assim, é só experimentando que o conhecemos, é só encontrando-nos muitas vezes com Ele que ficamos a saber Quem Ele É.
Porque esperas! Podes também marcar os teus encontros com Ele!

No final de um encontro, para concluir uma minha exposição sobre o Espírito Santo perguntei às crianças:
- Afinal, quem é o Espírito Santo?
- É a terceira pessoa do... plural.
Houve uma gargalhada geral. E, para se justificar, acrescentou:
- É assim! Deus está no plural. Então não termina em “s”?
Esta respostas não eram assim tão desapropriadas. De facto, Deus é plural, é família. Os alunos daquela turma riram-se por que o seu colega estava a cometer um erro de português, mas, afinal, a sua boca estava a fugir para a verdade.


PROPOSTA DE REFLEXÃO

Que experiência tenho do Espírito Santo como dom de amor?
Que sinais concretos encontrei e encontro na minha vida da Sua presença?
Como posso tornar-me dócil à presença do Espírito Santo?

Fazei o meu coração...

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Vinde e vereis!
> Texto: Fernando Ribeiro

Caro VALENTE!
Em todas as circunstâncias da vida, o homem e a mulher baptizados precisam de prestar atenção aos apelos do Senhor. Esses apelos chegam-lhe das mais variadas formas, através de múltiplos “sinais”. “Sinais” que, precisamente porque são apenas “sinais”, requerem, da parte de quem os recebe, acolhimento atento e boa capacidade de interpretação. Muito importante é, de facto, a arte de descodificar correctamente cada “sinal” que chega até nós trazendo apelos e propostas que têm origem em Deus.
Um dos “sinais” normais dos apelos do Senhor é a Palavra. No Livro Sagrado temos ao nosso alcance a Palavra revelada, cheia de luz e de força. O “Vinde e vereis” é parte muito significativa dessa Palavra de vida e é, certamente, na brevidade da sua forma e na clareza do conceito, das expressões para nós mais tocantes e consoladoras. É como que o resumo daquela belíssima passagem que podemos ler em S. Mateus e que vale a pena transcrever, para que a possas guardar na memória e meditar: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrarei descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e a minha carga é leve.” (Mt 11, 28-30).
Neste mês de contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado do Salvador, é oportuno fixarmos a nossa atenção nesta página maravilhosa e acolhermos o convite explícito que nos é feito: “Vinde!”. No desenvolvimento, encontramos a única referência evangélica ao “Coração” de Jesus.
É o próprio Jesus que nos recorda – porque, infelizmente, é possível esquecer – coisas tão simples mas tão importantes como estas:
> “Aprendei de Mim”: todo e qualquer mestre que não seja Ele não merece a nossa atenção, porque nada tem para nos ensinar daquilo que verdadeiramente faz falta aprender;
> “que sou manso e humilde de coração”. Ele, o Mestre, o único Mestre, tem coração, cujas características referidas são a humildade e a mansidão. É, sem dúvida, um coração cheio de amor e de bondade, clemente e compassivo… É o Coração de Deus. Mas é, sobretudo, o Coração do Filho de Deus que Se fez homem e, por isso, manso e humilde, em relação ao seu e nosso Pai e em relação aos homens seus irmãos.
> “E eu vos aliviarei”. Esta e as demais palavras da referida passagem evangélica merecem a nossa especial atenção. Não deixaremos de as considerar oportunamente. Entretanto, inspirados nas palavras de Jesus, ao longo deste mês particularmente dedicado ao seu Coração, não nos cansemos de suplicar: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”.

Rabi onde estás?

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Mestre, onde moras?
> Texto: Fátima Pires

Depois de Jesus ter feito o milagre da multiplicação dos pães (Jo 6), as pessoas que tinham sido saciadas com o pão e o peixe, e possivelmente muitas outras, procuravam Jesus.
Mas, qual a motivação desta procura? De que necessitavam? Porque é que se sentiam bem na presença deste Homem?
Jesus, que bem conhecia os seus corações, disse--lhes: “Meu Pai é que vos dará o verdadeiro Pão do Céu“.
Esta gente, cada vez mais impressionada, continua a pedir: “Dá-nos desse pão”, dá-nos da vida que és Tu.
Ao que Jesus responde: “Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede”
Tal resposta de Jesus deve ter deixado as pessoas cheias de espanto, e ainda hoje nos deixa maravilhados. É a loucura do AMOR de Deus. Jesus ama-nos tanto que entrega o Seu corpo como alimento, torna-se comida para aqueles que quiserem alimentar a sua relação com Ele. Ele é o alimento por excelência, é Aquele que sacia todas as nossas fomes. Só Ele nos pode tornar plenamente felizes e realizados.
Podemos ter abundância de pão e de tudo aquilo de que necessitamos. Podemos até ser ricos de bens materiais e nos sentirmos infelizes, tristes, desanimados, preocupados com muitas coisas, esquecendo que “uma só coisa é necessária”.
A nível físico e humano, todos sabemos quantos cuidados são necessários para vivermos com qualidade. No entanto, por vezes esquecemos que a vida espiritual é tanto ou mais importante.
Adiro eu à fé em Jesus Cristo?
Acredito que Ele é o único que pode alimentar a minha vida, o único capaz de preencher toda a minha existência?
Que significado têm para mim os sacramentos, concretamente a Eucaristia?
Jesus Cristo espera por ti para ser teu alimento na caminhada da vida!

Sentir-se da família...

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Em missão
> Texto: Armando Baptista

De regresso a Mada-gáscar e depois de um mês de férias, paro para dar voz à página “em missão” de A Folha dos Valentes.
Primeiro lembro a Semana Santa em Ankazobe, Fiana-rantsoa. Uma se-mana intensa. As férias escolares a-proveitaram-se para reunir os jovens e as crianças do distrito. As celebrações do Tríduo Pascal foram participadas e bem organizadas pelo Ir. José Manuel e os jovens seminaristas malgaches. A noite de Páscoa foi uma verdadeira oração festiva, cheia de alegria, movimento e serenidade.
Sempre gostei da Semana Santa em Madagáscar. É o período do fim das chuvas, das colheitas, com planícies cheias de tons dourado-esverdeados riscadas por riachos e rios abundantes, é o período da alegria e das festas e do tempo da fartura, embora seja pouca. A fartura de que falo não tem nada a ver com a nossa noção da mesma. No Sábado Santo, fazendo a viagem de uma igreja para a outra, dei boleia a algumas pessoas que iam fazer as últimas compras para a refeição do dia de Páscoa: nem bolos, nem carne, mas tão-so-mente um pouco de feijão para misturar ao arroz que nesse dia chegará abundantemente para todos. Na Páscoa é fácil fazer festa com o povo malgache para quem a certeza da vida para lá da morte é um dado óbvio e sem intermitências.
Segundo, ao partir neste momento, lembro-me que vai fazer 25 anos, a 2 de Janeiro de 2007, que os primeiros portugueses SCJ entraram em Ma-dagáscar.
Chegaram em 1982 à diocese de Ma-nanjary. O anúncio do Evangelho foi a grande ocupação inicial. Os primeiros missionários en-contraram 15 pe-quenas comunida-des cristãs em Ifanadiana e neste momento são já 135 comunidades. Ainda hoje a maior parte dos religiosos SCJ em Madagáscar estão ao serviço do anúncio directo do Evangelho e da pro-moção social do povo malgache.
Com o tempo, começou o acolhi-mento de jovens malgaches à vida religiosa. Criou-se, assim, uma estru-tura para a formação dos jovens dehonianos nas três principais cidades do planalto: o escolasticado em Antananarivo (capital); o noviciado em Antsirabe; e o seminário médio em Fianarantsoa, para o primeiro contacto com os jovens. São já 7 os padres dehonianos malgaches neste momento e este ano serão ordenados ainda outros dois sacerdotes SCJ no mês de Setembro, em Ifanadiana.
São já 25 anos!
É o trabalho, não só do punhado de missionários portugueses e italianos que lá se encontram, mas também o fruto do apoio de duas províncias SCJ e de dois povos generosos e cheios de fé. É bom sentir-se parte desta grande família e por vezes invisível ao primeiro olhar. Que o Coração de Jesus nos continue a unir.

A barca de Jesus

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Palavra de vida
> Texto: José Agostinho

Junho é o mês do Coração de Jesus. Nele também se celebra Santo António, a Solenidade do Corpo de Deus, o nascimento de São João Baptista e os Apóstolos São Pedro e São Paulo. Tantas Solenidades juntas tornam difícil a escolha dum texto do Evangelho. Vamos optar pelo texto do último Domingo do mês, o XII do Tempo Comum (Mc 4, 35-41). Porque nos fala de Jesus presente em todo o nosso caminhar.

Levantou-se então
uma grande tormenta… (Mc 4, 37)


Os discípulos vivem a experiência da dificuldade, da tempestade que os atormenta. A barca em que seguem viagem corre sérios riscos, parece que vai afundar-se. Debatem-se com esse enorme problema e, no entanto, Jesus continua tranquilo, a dormir, aparentemente ausente e indiferente ao que se passa à sua volta. A ponto de os discípulos O repreenderem, confrontados com tal distanciamento.
Quantas vezes experimentámos já este desassossego! E quantas vezes nos pareceu que Jesus estava ausente, indiferente às nossas dificuldades! Quando a tormenta se adensa, parece que o Senhor não está, que nos abandonou à nossa sorte, que nos deixa a lutar sozinhos, a debater-nos com as nossas poucas forças, perante tamanhas tempestades. Certamente que já por diversas vezes nos apeteceu perguntar a Jesus, como o fizeram os discípulos: “Mestre, não Te importas que pereçamos?” (Mc 4, 39).


Ainda não tendes fé? (Mc 4, 40)


Chamado pelos discípulos, Jesus acorda para acalmar a tempestade. Cessam os ventos, acalma-se o mar, regressa a tranquilidade. E aqueles homens ainda incrédulos vão fazendo a caminhada de adesão e acolhimento do Salvador que os acompanha na barca da vida, autor de toda a paz, de toda a bonança.
Quando, no mar agitado do nosso caminhar, conseguimos descobrir Jesus presente, encontramos paz, alcançamos serenidade, readquirimos forças para enfrentar todas as tempestades, todas as tormentas. Jesus segue na nossa barca, mas nem sempre somos capazes de O descobrir, de O acolher.
Que este mês de Junho seja caminho de encontro e diálogo sereno com o Coração de Jesus, sempre presente nos caminhos da nossa vida.

Verão: tempo de festa

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Primeiro Plano
> Texto: Paulo Cruz

O Verão está aí, e com ele chegaram os dias compridos, o calor, a cor… a festa.
É, sem dúvida, uma estação festiva. A natureza, o ambiente predispõem-nos para tal. Deixamos as cores escuras, sombrias e pesadas no armário e vestimo-nos com cores alegres, vivas e brilhantes. É a exteriorização do que interiormente vai sendo assumido. Não se trata apenas de uma mudança de aspecto ou de aparência, mas de disposição interior.
Tudo em nosso redor parece incentivar-nos à alegria, ao colorido, à festa.
Abandonamos o calor da lareira, o aconchego do sofá e procuramos o convívio na rua em conversas pela noite dentro, nos locais públicos, nas esplanadas, na praia, no campo, na aldeia, na cidade… É sem dúvida, o “abrir-nos” ao mundo, ao exterior, à partilha, aos outros. Parece que o exterior nos suga para o seu interior, faz-nos deixar a inércia da nossa “hibernação” e desperta-nos para a actividade.
Facilmente aparecem motivos para festejar. E para haver festa não é necessário muitas pessoas ou muito “som”, basta que exista alegria interior. E o Verão é uma estação que estimula, e facilmente encontrarmos motivos de alegria.
É nesta altura que grande parte dos planos de um ano lectivo e/ou de trabalho se concretizam: são as férias, há tanto ansiadas (e merecidas); são os resultados de um ano lectivo; são as actividades outrora adiadas por condições climatéricas ou falta de tempo; são as visitas à família, aos amigos, àquele sítio que passamos um ano a dizer que lá íamos no fim-de-semana; e tudo isto são motivos para festejar.
As pessoas nutrem uma atitude muito peculiar. Com o Verão as festas despontam como cogumelos: são as queimas das fitas (a maior e mais memorável festa universitária), são as festas populares (qual a terra que não tem um santo padroeiro que motiva uma procissão e uma festa mais ou menos profana?), são os piqueniques, as idas à praia (tão intrínsecas nos portugueses), as primeiras comunhões, as comunhões solenes, os casa-mentos, os grandes aconteci-mentos desportivos (como o Mundial de Futebol), o regresso dos imigrantes às suas raízes… E as festas multiplicam-se numa lista infindável onde cada um tem o “seu” motivo para festejar.
Uma festa tem de ser saudável. Saudável para o corpo, para a alma e sobretudo para o Ser. Será que é este o espírito das “festas” que frequentamos e proporcionamos?
A vida não pára e não podemos ser como a cigarra que passa o Verão a cantar, mas também não devemos ser como a formiga incansável (porque de facto não o somos e precisamos de vida social). Temos que pensar bem no tempo que dispomos e ter consciência que o tempo que passamos, a cada segundo, não nos é devolvido. Daí a responsabilidade de aproveitar cada segundo para construir uma vida alegre, onde o equilíbrio reine e existam sempre motivos para olhar para a vida como uma festa, porque Deus criou-nos para sermos felizes e fazer os outros felizes.

Brincar

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 352 > Junho 2006
Rubrica: Ao abrir
> Texto: Zeferino Policarpo

“O melhor do mundo são as crianças”, assim se expressou Fernando Pessoa num dos seus célebres poemas. E são, de facto. Pela sua beleza e candura, pela sua simplicidade e simpatia, pela sua pureza e humildade, pela sua paz e serenidade, pela sua alegria e inocência. As crianças são o melhor do mundo.
Jesus propõe as crianças como modelo de vida: “Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe” (Mt 18,3-5).
Iniciámos este mês de Junho celebrando o Dia Mundial da Criança (1 de Junho). É uma proposta anual das Nações Unidas que pretende chamar a atenção dos adultos para determinadas realidades das crianças que precisam de cuidados urgentes.
Devido à pobreza e subdesenvolvimento há crianças que morrem à fome, há crianças que não beneficiam dos cuidados básicos de saúde e estão sujeitas a toda a espécie de doenças, há crianças que não têm roupas para vestir, nem brinquedos para brincar, há crianças que não têm acesso ao ensino e à cultura...
Devido à riqueza e ao progresso há crianças que são colocadas nas entranhadas redes de comércio sexual para satisfazer apetites de ricos sem escrúpulos, há crianças que não o chegam a ser porque são mortas antes de nascer, há crianças que vivem sozinhas e não têm irmãos para brincar, há crianças que são enganadas porque se lhes dá tudo, mesmo aquilo de que não precisam, há crianças que são usadas como cobaias em sofisticados laboratórios clandestinos, há crianças que são vítimas da prepotência dos adultos e das guerras entre os povos…
Estas são faces dolorosas do mundo das crianças. E nós conhecemos bem tudo isto. Felizmente os meios de comunicação social fazem chegar até nós o grito de dor de todos estes seres inocentes. Felizmente também, não faltam iniciativas e gestos bonitos em favor das crianças desfavorecidas: Corrida contra a Fome (21 de Maio de 2006), festas de solidariedade, partilha de bens, momentos de oração, acções de voluntariado,…
Diz-se, e com muita justeza, que as crianças são o futuro da Humanidade. Mas a Humanidade só terá um futuro digno e risonho se os adultos de hoje devolverem às crianças a capacidade de brincar, se deixarem as crianças serem o que são e se procurarem ser como as crianças.

06 junho, 2006

Fotomensagem

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 351 > Maio 2006
Rubrica: Fotomensagem
> Fotografia: Luís Manuel


Ressuscitou Cristo, nossa esperança!
Exulta de alegria a terra inteira!

[da liturgia]

Comunicar

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 351 > Maio 2006
Rubrica: Sal da Terra
> Texto: Paulo Rocha

A cada passo, cruzamo-nos com essa dimensão no nosso ser, pessoal ou em sociedade, que faz parte da espontaneidade do nosso dia-a-dia ou de estratégias concertadas de indivíduos ou instituições: a comunicação social.
Brevemente, surgirá no calendário um dia, o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a Igreja Católica propõe para pensar o mundo dos média.
“Os Média: Rede de Comunicação, Comunhão e Cooperação” é o tema que o papa Bento XVI escolheu para a sua primeira Mensagem para este Dia Mundial, o único a ser sugerido pelo Concílio Vaticano II. No início de um Pontificado, Bento XVI reúne, numa Mensagem, as proposições fundamentais acerca das atitudes da Igreja Católica diante do mundo dos média.
Eles, os meios de comunicação social, fazem parte do nosso dia. E antes de olhar o que diz o papa, a justificação da escolha do tema para estas linhas a partir do que constitui uma aposta profissional e também uma paixão pelo que é capaz humanizar sociedades.
Primeiro, a experiência aponta para a imprescindível necessidade de parcerias com os mundo dos média. Hoje, como em todo os tempos da existência da pessoa humana – um ser em relação –, é absolutamente necessário criar proximidades com os protagonistas dos meios dos meios de comunicação social e, com eles, incluir mensagens que valorizem a pessoa humana, que apontem para relações de fraternidade e olhem para lá do interesse próprio, olhem antes para o bem comum.
Depois, uma constatação de todos os ambientes: é com os órgãos de comunicação social que a pessoa humana estabelece relações, sejam elas alienantes ou construtivas de personalidades em sociedade. À procura de uma companhia para momentos de solidão, ou para conseguir a instrução acerca das questões que fazem a história de cada momento que passa, os meios de comunicação social estão connosco, estão à nossa mercê!
Cabe-nos, a cada consumidor da comunicação social, essa tremenda responsabilidade de abrir o jornal na página com interesse ou mudar para o canal que corresponde ao perfil da sociedade que procuramos construir.
E nessa tarefa, a mensagem do papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deixa pistas. Bento XVI valoriza a capacidade que os média têm em permitir “a comunicação imediata e directa também entre pessoas divididas por enormes distâncias”. E essa é “uma grande oportunidade para servir o bem comum”.
A “quantos trabalham nos média” o papa pede a difusão de “verdades fundamentais e o significado profundo da existência humana, pessoal e social”. A cada meio de comunicação social, Bento XVI sugere que se torne “protagonista da verdade”. Essa será a via da promoção da paz e do diálogo em toda a humanidade, que os meios de comunicação social são capazes de promover, por serem uma “grande mesa redonda”.
Para quem é consumidor de comunicação social – e todo ser humano o é – este dia, o Dia Mundial das Comunicações Sociais, a assinalar a 28 de Maio, é um convite a fechar o jornal ou o livro, a desligar a televisão, a rádio ou o computador e criar espaços de avaliação à forma como se usam os média. Só assim é possível definir estratégias de comunicação (emitindo ou recebendo mensagens) que coloquem essa tecnologia dos média em constante transformação ao serviço do bem comum.

A Família e a Escola

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 351 > Maio 2006
Rubrica: Nós Pais
> Texto: Ana Maria - Joaquim Leite

Nos dias de hoje a família e a escola estão muito dependentes das características da sociedade que as rodeia. Ora, como a sociedade está, ela própria, em constantes e rápidas mudanças, a família e a escola vêem-se confrontadas com uma forma de encarar a educação dos jovens que não é nem única, nem estática, nem uniforme. E isto porque as famílias, as escolas, os pais, os alunos e os professores não são todos iguais. Não há soluções que abranjam todas estas estruturas e agradem a todos; determinado processo que deu resultado para alguns pais e filhos, não deu para outros; aquele método que foi eficaz numa escola, pode já não resultar noutra.
O mundo em que vivemos é muito complexo. Apesar de a ciência e de a técnica nos facilitarem global e rapidamente os meios para alcançarmos os fins pretendidos, estamos cada vez mais dependentes destas. Hoje, muitos pais, ao sentirem que a sua vida de família se tornou frágil e vulnerável (por motivos profissionais, divórcios, etc.), delegam na escola e nos professores a função da educação e do crescimento intelectual e até moral dos filhos. Mas acontece que também a própria escola sofre a influência do meio ambiente que, a maior parte das vezes, não é favorável à própria escola. É por isso que a família e a escola devem unir esforços para levarem a cabo esta difícil, mas fundamental tarefa que constitui a educação das gerações futuras.
A escola é o prolongamento da família e, por isso, tanto uma como outra devem estar em sintonia no que se refere à educação dos jovens, enquanto filhos e alunos. Os pais devem sentir-se felizes por contar com este auxiliar, como é a escola, na educação e formação dos filhos.
Porém, muitas vezes o que se verifica na prática, é que a família e a escola têm critérios e normas diferentes, valores morais contrários na educação e formação das novas gerações e, assim, os filhos e alunos em vez de ficarem educados e bem formados, ficam deseducados e deformados, tanto no aspecto moral como no aspecto psicológico e cívico. Ficam confusos e baralhados e acabam por fazer as escolhas que mais lhes agradam, por critérios de facilidade ou de moda, ou até mesmo sem um critério preciso. Isto certamente não será o mais correcto, o mais justo e o mais digno.
Mas uma saudável interacção entre estas duas células formativas passa também por uma eficaz comunicação entre ambas. O hábito de só chamar os pais à escola quando os filhos têm mau comportamento, já deveria estar ultrapassado, o que infelizmente não acontece. A escola deve pôr os pais ao corrente de tudo o que se passa ou se faz relacionado com os seus filhos pois, deste modo, os pais sentir-se-ão como elementos que fazem parte da orgânica da escola, e que a sua intervenção contribui para o enriquecimento da mesma e para o desenvolvimento dos seus filhos. Assim, todos ficariam a lucrar: escola, professores, pais, filhos e toda a sociedade.
A educação e a boa aprendizagem dos alunos é uma tarefa dos professores na escola, mas também é um objectivo dos pais em casa. A escola não pode, nem deve, substituir a família. A família não pode demitir--se das suas funções e tornar a escola num “armazém” onde deposita os seus filhos.

É fundamental haver colaboração entre a escola e a família, até porque os alunos, apercebendo-se desta interacção, naturalmente se sentirão mais a-companhados e estimulados a melhorar e a progredir, e serão certamente mais seguros.
Educar é ajudar os jovens a descobrir o seu caminho, o seu lugar neste mundo, a sua vocação, para que se realizem plenamente.


PROPOSTA DE REFLEXÃO

Aos pais:

> Que passos concretos temos dado para esta interligação escola/família?
> Participamos activamente nos encontros que a escola promove?
> Somos críticos naquilo que não achamos estar bem na escola, dando sugestões?
> Em casa e na medida em que cada um pode e tem conhecimentos, seja de matérias de ensino, seja simplesmente de coisas da vida (não menos importante), somos educadores dos filhos? Temos tempo para eles?

Aos jovens alunos:
> A escola é para ti a fonte de enriquecimento que pretendias?
> Dizes alguma coisa do que se passa na escola aos teus pais?
> Sentes-te bem na tua escola? Aprendes? Fazes amigos?
> Em que gostarias que os teus pais te ajudassem?

Tempo para Deus

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 351 > Maio 2006
Rubrica: Planeta Jovem
> Texto: Grupo de Jovens Profetas de Assis

“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante” (Antoine de Saint-Exupéry, in O Principezinho). Esta pequena frase dita pela raposa ao principezinho, tão densa quanto simples e directa, coloca-nos inevitavelmente perante aquele que é, na nossa opinião, um dos maiores problemas que a pastoral juvenil enfrenta actualmente. De facto, ouvimos dizer com frequência que “os jovens não vão à igreja”; melhor, “os jovens não põem os pés na missa”. A nós, porém, parece-nos bastante mais realista e até apropriado afirmar que os jovens não dedicam tempo suficiente a Deus.
Visto deste prisma, o problema afigura-se até um pouco mais sério, uma vez que a relação do jovem com Deus falha nas diversas dimensões que deveria contemplar e que são, naturalmente, fundamentos para a sua própria felicidade. Referimo-nos, entre outras, à falta da prática de uma caridade expressa por gestos concretos; referimo-nos à falta de oração pessoal, à inexistência do encontro íntimo com Deus; referimo-nos à incógnita que é, para a maioria, a própria Palavra de Deus, cuja leitura parece dizer respeito apenas aos clérigos e religiosos; referimo--nos, é claro, ao mistério da Eucaristia, tantas vezes celebrada para uma assembleia demasiado envelhecida na idade e na disposição.
E quais as razões para tal afastamento? Não nos surpreende que o jovem do século XXI prefira os amigos à restante comunidade cristã, a cama à celebração dominical, um qualquer livro de ficção à Palavra de Deus. Olhemos atentamente estas situações, tal como muitas outras, e veremos através delas o comodismo, diríamos até o egoísmo, de quem não está disposto a deixar o seu espaço e bem-estar para se aproximar de Deus e dos irmãos.
Por outro lado, é certo também que por vezes o culto não é suficientemente cativante. Antes de mais, consideremos que este não é um argumento minimamente válido para não se tomar parte nas celebrações da comunidade. Isto, porque quer apontemos o dedo à falta de organização, à pobreza da liturgia e do canto, ou ainda à incapacidade do pregador, é de toda a comunidade a responsabilidade de prestar um culto digno a Deus. Assim, e tomando como exemplo a falta de jovens nas eucaristias dominicais, parece--nos que esta resulta do comodismo (egoísmo) dos jovens, agravado por sua vez pela incapacidade da restante comunidade para os cativar e acolher no seu seio.

Contudo, se nos debruçarmos um pouco mais sobre este assunto, acabaremos por chegar à conclusão de que a verdadeira razão para este afastamento afinal não diz respeito apenas aos jovens. Trata-se da falta de fé, um problema que afecta as sociedades outrora mais crentes, mas que hoje não encontram razões para permanecerem voltadas para Deus. E se toda uma sociedade não encontra razões para permanecer em Deus, como podem os seus jovens, não obstante toda a força e entusiasmo que possuem, encontrar tempo para Deus?
Esta é uma questão densa, que diz respeito directamente a toda a Igreja. É na juventude que reside o futuro, também o futuro da cristandade. Por esta razão, parece-nos que a pastoral juvenil precisa, senão de uma renovação, pelo menos de uma reformulação no que diz respeito aos seus métodos, tal como de um novo entusiasmo.
Olhemos uma questão muito prática: se a juventude não encontra razões para “gastar” tempo com Deus, porque não dar-lhe essas razões, mostrar-lhes o quão importante é o tempo gasto em favor dos outros e em louvor de Deus? Ou devemos continuar a lamentar--nos porque os jovens não vão à Igreja e, quando nos encontramos perante um deles, dizemos que devia ir, que devia ter estado? Aí ele pergunta porquê, muitas vezes apenas interiormente, e nós limitamo--nos a repetir que devia ir, que devia ter estado… E as razões? Não esqueçamos que, não só por sua culpa, a nossa juventude está descristianizada, e por isso não podemos partir de uma experiência de fé que ela ainda não fez.
Logo, o caminho que nos parece mais indicado percorrer para cativar e evangelizar a juventude do século XXI é, sem dúvida, o do testemunho. Esta dimensão da vida e missão cristãs pode e deve, em conjunto com a oração, cativar os jovens que nos rodeiam. O que sentirá um destes jovens quando confrontado com uma assembleia que contagie tudo e todos com a sua alegria, por exemplo ao sair de uma Eucaristia? O que sentirá ao ver um grupo de jovens que respire entusiasmo e força de vontade ao ajudar os outros, sobretudo a comunidade? O que sentirá ao testemunhar o encontro de um amigo com Deus e a felicidade que esse encontro proporciona?
Este testemunho é fundamental, é urgente, e é missão nossa. Testemunhar a experiência pessoal e comunitária de Deus é missão de todo o cristão, mas testemunhá-la aos jovens, é especialmente a nossa missão, a missão de todo o jovem cristão. Não deixemos pois de fazer um apelo directo a cada amigo, a cada conhecido, a cada jovem que se cruzar na nossa vida. Porque não juntar a esta frase tão verdadeira quanto gasta “a Igreja sem jovens é uma Igreja sem vida”, um apelo tão directo quanto urgente: “a Igreja sem ti é uma Igreja incompleta”?

Depois deste primeiro passo haverá ainda, com certeza, um longo caminho a percorrer, até que o jovem compreenda o quão importante é para ele e para a Igreja a sua presença, o quão “rentável” é o tempo gasto com e para Deus. Atingirá este ponto quando compreender e, acima de tudo, concordar com a pequena afirmação da raposa: “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez a tua rosa tão importante”. Frase simples e directa mas, acima de tudo, sábia. Gastemos tempo com Deus, demos-Lhe o nosso tempo, e Ele o transformará em tempo de salvação e felicidade, Ele o transformará num tempo especial.


PROPOSTA DE REFLEXÃO

> O que nos leva a estar com Deus e a participar nas celebrações da comunidade a que pertencemos? O que poderá levar mais jovens a fazer o mesmo, dedicando um pouco do seu tempo para Deus?

> Rever os conteúdos e métodos da pastoral juvenil, para que esta seja capaz de integrar a realidade actual e, de acordo com os seus princípios, cativar uma juventude já por si tão solicitada.

> Promover inquéritos, grupos de reflexão e seminários acerca do tema, envolvendo especialmente os diversos grupos de jovens.

> Promover, no sentido do testemunho e da partilha, intercâmbios entre os diversos grupos de jovens.

Acarinhar

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 351 > Maio 2006
Rubrica: Ao abrir
> Texto: Zeferino Policarpo

Mãe que acalentas o teu filho nos braços,
Que lhe tiras o choro e colocas um sorriso nos seus lábios;
Mãe que dia e noite velas para que nada lhe aconteça,
Que segues com o teu olhar cada um dos seus gestos;
Mãe que ensinas o teu filho a balbuciar as primeiras palavras,
A chamar “papá”, “mamã” e a fazer as primeiras orações;
Mãe que acordas mais cedo do que o sol para que o dia decorra tranquilo,
E que ao fim do dia, fatigada do trabalho, espelhas ainda um sorriso nos lábios;
Mãe que contemplas embevecida o teu filho
E que sonhas para ele um mundo feliz;
Mãe que levas o filho à escola, à catequese, ao desporto,
Que queres fazer dele um Homem realizado;
Mãe que vês passar, temerosa, os anos da adolescência
E que aguardas pacientemente os tempo de serenidade para o teu filho;
Mãe que sofres com as suas crises e os seus problemas,
Que aconselhas e que incentivas o filho a caminhar;
Mãe que te preocupas com as modas e as companhias do teu filho
E que o ajudas a escolher os melhores amigos;
Mãe que vês o teu filho rodeado de problemas e de vícios
E que lhe dás a mão para não mais fraquejar;
Mãe que vês o teu filho sair de casa para estudar numa cidade distante,
Para trabalhar num trabalho sacrificado
E que sentes a dor da separação e da distância;
Mãe que vês o filho casar, ser pai, ser mãe
E que, passados muitos anos, como que te tornas mãe novamente;
Mãe que com alegria vês a família crescer
E que sentes que tudo se renova num novo ciclo que se inicia;
Mãe a quem o peso dos anos não tira a juventude,
Mãe a quem as doenças atormentam
Mãe que não tens férias, nem noite nem dia;
Mãe a quem os filhos fazem chorar e sofrer;
Mãe a quem os netos dão vida e esperança;
Mãe que sentes chegar o fim da tua peregrinação na terra;
Mãe que tens a consciência da missão cumprida,
Mãe…
Este mês de Maio é para ti que me acarinhaste e me ensinaste a acarinhar.
Obrigado Mãe.

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