09 dezembro, 2006

Tempo para brincar

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 353 > Julho 2006
Rubrica: Nada de Novo
> Texto: David Vieira

Chegaram as férias escolares. Agora há mais tempo para brincar e para aprender na escola da vida.
Recordo as brincadeiras da minha infância. Éramos nós que fazíamos a maior parte dos nossos instrumentos de lazer. Às vezes bastava um pau, um fio ou uma lata velha e lá nos entretínhamos como se se tratasse do mais sofisticado brinquedo. Foi nessa escola da vida que cresci e aprendi a lidar com as coisas, a respeitar as regras, a saborear vitórias ou a saber perder.
Hoje continuo a aprender o significado de tais brincadeiras. De entre esses jogos sobressai o Jogo das Damas, infelizmente sem adeptos entre as novas gerações dos nossos dias. Com um simples pedaço de telha ou um resto de giz desviado na escola desenhávamos no cimento do chão um tabuleiro improvisado. Demarcávamos até as casas pretas das brancas. Com as caricas recolhidas zelosamente ou com as bolotas de eucalipto bem alinhadas, começávamos o desafio. Um passo de cada vez, mas sempre em frente. Ultrapassando obstáculos, saltando de casa em casa até conseguir chegar à meta sem se perder. Uma vez aí, podíamos movimentar-nos sem limitações, eliminando os obstáculos à frente ou de trás até se esgotar todos os objectivos.

Hoje, tantos anos depois, continuo a jogar, mas no tabuleiro da vida, porque o Jogo das Damas tem as regras da vida. Senão vejamos:

> Todos partem em igualdade de circunstâncias. Todos bem alinhados e em número idêntico.
> É um desafio entre a Luz e as Trevas, peças brancas contra peças pretas.
> O caminho já está traçado, mas há sempre liberdade de opção. Há momentos em que é preciso ceder para ir mais além.
> Não se pode dar dois passos de uma só vez, é preciso calma progressiva.
> Só se deve andar para a frente, nunca voltar para trás.
> Passar por cima dos outros é pô-los fora de jogo.
> Mas, quando se está no topo, as pedras elevam-se e pode-se andar por onde se quer, realizando todos os nossos sonhos.

Assim se jogava e assim se aprendia a viver. O Jogo das Damas passou à história, mas as suas regras continuam em vigor. Com certeza que hoje haverá outros jogos, e por ventura outras damas, que continuam esta escola da vida.

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