09 dezembro, 2006

O afamado "Código Da Vince"

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 353 > Julho 2006
Rubrica: Primeiro Plano
> Texto: Fátima Teixeira

Em Primeiro Plano esteve durante os meses de Maio e Junho, o tão esperado filme “Código da Vinci”, baseado no romance escrito por Dan Brown e editado em Março de 2003 nos EUA.
Este best-seller criou tanta polémica que foi logo transformado em filme, pois sabia-se que à partida também seria um grande sucesso. Alguns afirmam que foi um dos maiores golpes literários da história, ou seja uma forma rápida de enriquecer, pois joga com aspectos que se sabem à partida provocar polémica. Outros dizem que é interessante pois serve de base de debate a muitas outras questões, como a veracidade ou não de algumas lendas históricas.

Será embuste literário?
O autor afirma que o livro tem por base anos de pesquisa histórica, mas alguns documentários demonstram que muitos aspectos mencionados na obra nem sequer existem. Por exemplo, e embora a Biblioteca Nacional de Paris exista, os manuscritos mencionados no romance não. Por outro lado os fiéis da Opus Dei nem sequer são monges nem usam hábito. Há quem diga também, que as pesquisas que fez tiveram por base outras pesquisas amadoras, ou seja, que aproveitou trabalhos que também eram incorrectos em termos históricos.
Por outro lado também há alguma veracidade, como por exemplo alguns locais e pontos mencionados são reais, como os detalhes da “Última Ceia” e a existência do Túmulo de Isaac Newton.

Mas afinal se são só mentiras
então porquê tanta polémica?
Dizem alguns que ninguém faz este tipo de ilações com o Islamismo, com medo das ameaças de morte, coisa que com o Vaticano é impossível de acontecer. Há também quem diga que Dan Brown foi pago para escrever este livro com o intuito de esconder factos ainda mais graves.
Para os amantes das teorias da conspiração há muito por onde pegar, mas tudo não passa de um amontoado de opiniões e muito pouco de factos reais. Aliás torna-se mesmo difícil encontrar algum facto.

O que é a Opus Dei?
O Opus Dei – Obra de Deus, em latim – é uma instituição hierárquica da Igreja Católica, uma prelatura pessoal, que tem por finalidade contribuir para a missão evangelizadora da Igreja. Concretamente, propõe-se difundir uma profunda tomada de consciência do chamamento universal à santidade e do valor santificador do trabalho corrente. O Opus Dei foi fundado por São Josemaría Escrivá no dia 2 de Outubro de 1928.
As prelaturas pessoais são circunscrições eclesiásticas, previstas pelo Concílio Vaticano II e pelo Código de Direito Canónico, constituídas para levar a cabo, com grande flexibilidade, determinadas tarefas pastorais. Os fiéis das prelaturas pessoais continuam a pertencer às igrejas locais ou dioceses onde têm o seu domicílio.

O que é o Priorado de Sião?
Reza a lenda que foi fundado pelos membros mais nobres dos perseguidos e extintos templários. Estes eram tidos por detentores de segredos descobertos aquando da sua estadia na Terra Santa, como a origem do Cristianismo, o Graal e a linhagem dos supostos descendentes de Jesus.
No entanto, o Priorado de Sião foi declarado legalmente como uma associação francesa a 20 de Julho de 1956. O seu fundador foi Pierre Plantard, cuja teoria era de que o Priorado de Sião dataria de 1099 e teria sido fundado por Godofredo de Bulhão.
Segundo Plantard, os Cavaleiros Templários e o Priorado de Sião seriam duas facetas de uma mesma organização: a primeira pública e a última secreta. Segundo Plantard, o Priorado teria como missão proteger os descendentes da dinastia merovíngia, organizando-se contra a Igreja Católica.
Mas em 1989, Pierre Plantard, desgastado pela progressiva divulgação na França da natureza fraudulenta da sua criação, decidiu negar a mesma.

Existem outros evangelhos?
É um facto de que no ano 1945, cinquenta textos foram descobertos no Egipto que continham literatura que pertencia aos Gnósticos. Entre estes textos se encontrava o evangelho de Filipe, o evangelho da verdade, e o evangelho de Tomé.
No entanto, estes evangelhos não são livros perdidos da Bíblia como diz o livro de Dan Brown. São os documentos de um pequeno grupo de pessoas (Gnósticos) que acreditavam numa versão de cristianismo muito diferente da dos primeiros cristãos.
Então o livro de Dan Brown está correcto ao afirmar que existiam evangelhos gnósticos, mas é falso afirmar que eles são os mais velhos ou os mais verídicos da vida de Jesus Cristo. A razão pela qual estes textos não estão incluídos no Novo Testamento é que os apóstolos (ou aqueles conhecidos aos apóstolos) não escreveram estes textos. Os autores dos evangelhos gnósticos são desconhecidos.
Existe evidência histórica de que os quatro evangelhos que temos no Novo Testamento se tornaram aceitáveis muitos anos antes das datas mencionadas no livro. Além disso, os escritos dos Gnósticos foram rejeitados porque a sua autoria era de um grupo de pessoas que não acreditava que Jesus era Deus.

Uma obra de ficção
Em conclusão, este tipo de obra não é um documento histórico, mas sim pura ficção, cujo objectivo é de entretenimento. Claro que quem o escreveu soube manipular bem alguns pontos, como a curiosidade crescente sobre o fanatismo religioso e as vidas secretas dos seus elementos. Tudo com o simples fim de cativar as massas e assim conseguir um êxito literário.
Não há dúvida de que Dan Brown é um bom contador de histórias, que soube aproveitar toda uma conjuntura mundial, para, à boa maneira americana, conseguir misturar ingredientes do agrado público e assim enriquecer rapidamente.

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