22 março, 2006

Nada justifica a violência

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 349 > Março 2006
Rubrica: Outro Ângulo
> Texto: Maria Leonor

Parece-me completamente exa-gerada a reacção do Islão às caricaturas de Maomé publicadas por um jornal dinamarquês e, pos-teriormente, por outros jornais europeus.
A violência nunca é resposta para nenhuma provocação, ainda que ela afronte e viole os nossos princípios, e isto supostamente deve acontecer porque somos seres racionais e, como tal, capazes, em princípio, de resolver quaisquer atritos através de uma via pacífica.
Evidentemente que tudo isto é teoria face aos acon-tecimentos mundiais, mas justificar a violência nunca é argumento para coisa ne-nhuma. No entanto, e dado que sou um ser pensante, creio que, da mesma forma que para mim a liberdade de imprensa é inviolável, também para um muçulmano o respeito pela sua religião é sagrado. Logo, parece-me pertinente que não seja correcto gozar com tudo e achar que a liberdade de imprensa é infinita.
A verdade é que todos convivemos num Mundo constituído por perspectivas muito diversas e é-nos incutido desde cedo que a nossa liberdade termina onde começa a do Outro. O problema é que o respeito pelas outras culturas, por vezes, ultrapassa essa barreira do Outro e acabamos por desconfiar de tudo o que é diferente de nós. Ainda que não seja assim tão diferente nas outras culturas (e daí um árabe não morrer de amores por um ocidental, sobretudo por um norte-americano!), não me parece nada bem generalizar factos, culturas e situações, e o pior erro das caricaturas sobre o profeta Maomé foi exactamente o de transmitir a ideia xenófoba e redutora de que todos os muçulmanos eram terroristas. De facto, não o são e as manifestações transmitidas na televisão estão longe de mostrar multidões desenfreadas. Quando muito vemos umas centenas de pessoas a manifestarem-se, mas o que é isso perto de milhões e milhões de árabes?
O que é lamentável em tudo isto é o arrastamento provocado pelo incidente das caricaturas e as consequências todas que daí têm advindo.
Um caricaturista residente na Austrália aproveitou a situação e decidiu ridicularizar com o Holocausto, uma atrocidade histórica também minimizada há semanas atrás pelo actual presidente do Irão. As situações são similares, mas a incapacidade de o ser humano em ser imparcial não lhe permite compreender isso. O dito caricaturista argumentou que foi a sua empatia em relação à indignação árabe que o levou a publicar estas tristes caricaturas. A mim, parece-me, por um lado, apenas mais uma desculpa para manter acesa uma guerra interminável entre povos e, por outro lado, mais uma manifestação de desrespeito pelo sofrimento humano.
Lamento que o Mundo seja tão imperfeito, mas, acima de tudo, continuo sempre a acreditar que nada justifica a violência e que o ódio nunca terá fim, se continuarmos a recorrer a ele como arma contra outras manifestações de ódio.

> comentários efectuados:

No dia 21 julho, 2006, Anonymous Anónimo escreveu esta mensagem...

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