13 dezembro, 2005

A melhor prenda

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 346 > Dezembro 2005
Rubrica: Nada de Novo
> Texto: David Vieira

Ao sentir-me envolvido por tantos sinais natalícios, predispus-me também, bastante cedo, a fazer os meus planos para o Natal. Desta vez não quero deixar nada para a última hora. O Natal tem de ser vivido com serenidade, saboreando cada momento. Por isso, comecei, atempadamente, a fazer a lista das compras, ofertas, visitas, comemorações, etc.
Como o momento é de austeridade, tive de cortar no orçamento, poupar no luxo, reduzir as expressões, juntar as visitas. À medida que limitava os gastos, os compromissos e as atenções, vi-me concentrado no essencial do Natal. Para quê tanto folclore, tanta distracção ou paisagem, se o Natal é tão simples? Natal é apenas isto, e é tão grande: “é o Filho de Deus que Se fez homem para fazer dos homens filhos de Deus.”
Tenho de agradecer à crise económica a oportunidade que me deu de me centrar na especificidade do Natal. Não quero, não devo, nem posso, nesta quadra natalícia, dar e receber ofertas vazias de sentido, fazer celebrações banais, receber inutilidades – troca de prendas, postais, mensagens de telemóvel, brindes… Nada disto.
Mas não vou esquecer os meus amigos. Para eles vou partilhar o episódio histórico que deixo aqui:
Uma senhora ia todos os domingos à Missa. À porta da igreja, um homem pedia esmola. A senhora passava, o pedinte estendia a mão e uma moeda sempre lá ficava. Fosse Verão ou Inverno, Natal ou Páscoa, a esmola era entregue como ritual de entrada no lugar sagrado.
Um dia, porém, sem saber como, a senhora à porta da igreja reparou que se tinha esquecido da carteira em casa. E agora? O seu pobre lá estava de mão estendida e ela, pela primeira vez, não podia exercer a sua caridade. Toda envergonhada disse:
– Peço-te desculpa. Hoje não te posso dar nada. Esqueci-me do dinheiro em casa!
O mendigo sorriu feliz e respondeu com toda a sinceridade:
– Muito obrigado! Hoje a senhora deu-me muito mais do que todos os outros dias. Hoje dignou-se falar comigo pela primeira vez. Obrigado!
O Verbo encarnou e habitou entre nós. É este Menino Deus que veio falar connosco que quero celebrar neste Natal. Dispensarei as ofertas, a dar ou a receber, para estar mais disponível para falar com Ele e estar com os outros.


> PROPOSTA DE REFLEXÃO
1. Completar a expressão: “Para mim, o Natal é…”
2. Fazer a lista dos consumismos do Natal.
3. No Natal, Deus não nos dá coisas, dá-Se a Si mesmo. Que fazer para entrar nesta dinâmica.

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