04 dezembro, 2005

Comunicação pais-filhos

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 344 > Outubro 2005
Rubrica: Nós, pais...
> Texto: Ana Maria e Joaquim Leite

Pensamos que ninguém põe em dúvida a grande importância do diálogo entre pais e filhos. Só quando existe uma verdadeira comunicação no nosso lar é que se é verdadeiramente família, caso contrário, seremos uns estranhos que vivem sob o mesmo tecto, mas que pouco sabem uns dos outros.

Alguns aspectos negativos
Alguns pais dão materialmente tudo aos filhos, mas esquecem-se de se dar. Esquecem-se de que o futuro se constrói no presente e de que o tempo em que falam, em que riem, em que contam as suas próprias histórias de vida, experiências boas ou más, as suas preocupações, é um tempo crucial para ajudar a cimentar uma juventude equilibrada. Estes pais devem acordar e não desanimar. Educar é sempre começar de novo. Estamos sempre a tempo de estreitar laços e, deste modo, não perderemos tudo, passando do “nada fiz” para o “acordei um pouco tarde, mas fiz alguma coisa”.

As dificuldades
Para muitos pais, esta comunicação não é fácil porque não foram eles próprios educados numa comunicação aberta. Na verdade, muitos jovens de hoje são “mestres” no computador, a navegar na Internet, têm muita informação, mas têm muitas dificuldades em gerir as suas emoções. Resolvem bem os problemas que lhes surgem no ecrã, na “máquina”, mas no seu íntimo estão desequilibrados porque não aprenderam a dialogar sobre os seus conflitos existenciais e sobre aquilo que lhes vai na alma com os pais ou com outras pessoas próximas. Por isso fecham-se no seu mundo, quantas vezes em sofrimento, pois não compreenderam o que se passa com eles. Sofrem eles e os que estão à sua volta. Nem uns nem outros conseguem exprimir os seus sentimentos, medos e angústias. Cada vez se vão sentindo mais sós e sentem que ninguém os vai entender ou dar ouvidos.

A acção
Como pais, temos de ter a capacidade de nos darmos aos nossos filhos e ajudá-los a verbalizar os seus sentimentos desde a mais tenra idade; fazer com que digam “estou triste” ou “estou zangado, aborrecido”, “acontece-me isto ou aquilo”, “tenho medo de ...”. Achamos que, mais importante do que dar muita informação aos jovens, é preciso saber formar os jovens. Por isso o nosso exemplo diário e o diálogo pais-filhos é a base de tudo.

É preciso que os pais tenham a capacidade de “entrar” no coração dos filhos. Que os filhos não sintam os pais como intrusos, mas sim como alguém que está ali para os ajudar a crescer. Para isso e para que os filhos deixem que os pais partilhem das suas vivências e dificuldades, os pais têm também de lhes contar as suas histórias passadas, as suas aventuras e sonhos e, porque não, os seus medos e angústias. Os pais têm de lhes saber dizer que eles são o centro da sua vida; eles têm que se sentir amados pois nos momentos de desequilíbrio do seu crescimento, esse amor é a grande âncora com que podem sempre contar. Os pais até podem ter uma dúzia de filhos, mas cada um deles tem de se sentir único e indispensável.

Mas a comunicação não é só verbalizar. Por vezes um almoço, um beijo ou abraço, o aconchego que faltava naquele dia tão difícil, ou seja, há acções que aproximam. Desde o gatinhar com eles ainda muito novos, a andar de bicicleta, a dar um mergulho, a cantar, a ir a um espectáculo juntos, tudo isto são caminhos para a comunicação pais--filhos. Portanto, quando não souberem mais de teorias de formação, simplesmente façam qualquer coisa juntos e verão que na maioria das vezes resulta melhor.

Saber comunicar com eles é saber dar-lhes um pouco de serenidade que eles tanto precisam nesta fase das suas vidas. Raro é o jovem que não sofre no seu crescimento, mas temos que lhes fazer sentir que esse sofrimento, quase sempre, é uma oportunidade para crescer.

Este texto está muito dirigido aos pais, mas necessita da abertura dos filhos. Os filhos precisam de sentir que os pais os amam, querem o melhor para eles para serem felizes, não para serem o mais rápido do mundo, em qualquer coisa, ou o maior génio da ciência. Os jovens devem abrir-se à vontade e capacidade que os pais têm em os engrandecer. Alguns pais têm conhecimentos científicos porque estudaram, mas todos têm conhecimentos humanos porque viveram muitas experiências na vida, podendo dar um acompanhamento muito necessário e proveitoso aos filhos.

PROPOSTA DE REFLEXÃO
> Deixo entrar os meus pais no meu mundo?
> Faço alguma coisa com eles que me dá gosto?
> Considero os meus pais meus amigos?
> Que posso fazer para melhorar o diálogo com eles?
> Como avalio a importância do tempo aplicado nesta comunicação pais-filhos?

> comentários efectuados:

No dia 04 dezembro, 2005, Anonymous Anónimo escreveu esta mensagem...

Olá.Uma amiga indicou-me este blog e disse-me que era uma coisa nova. Gostei muito de ler este artigo sobre a educação do filhos. Sou mãe e tenho três filhos. As situações da vida levaram a que sobrasse para mim a educação deles. Sei que não é o melhor para eles, mas foi o melhor que podia ter feito. A minha grande dificuldade é entrar no mundo deles, sobretudo a mais velha que tem 14 anos. Sei que está a passar uma idade difícil, mas por diversas vezes notei que me faltam os meios para a poder ajudar. A sensação que tenho é que muitas vezes a escola e os amigos estragam muita coisa boa que se faz em casa e criam bloqueios que sinceramente não sei como ultrapassar. Por vezes dou por mim a pensar: "deixa andar que isto há-de passar". é uma forma de tranquilizar a minha consciência e sentir uma certa paz...

 

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