22 dezembro, 2005

O meu primeiro Natal

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 346 > Dezembro 2005
Rubrica: Outro Ângulo
> Texto: Maria Leonor


As Presidenciais continuam animadas, a taxa de desemprego regista valores cada vez mais elevados, as obras no Metro do Porto foram suspensas temporariamente, a economia do país só vai subir 0,3%... E, apesar de se antever um mês de Natal muito contido em termos comerciais e económicos, pela primeira vez na minha vida vou viver a data mergulhada na verdadeira acepção da palavra: vou ser mãe pela primeira vez.
Quando recebemos e nos confrontamos com uma notícia como a de ser mãe, tudo o resto passa para segundo plano, as dificuldades laborais passam a ser menos sérias e as prioridades que, até então, ocupavam uma parte significativa da nossa vida, passam a ser questionadas e dão lugar a um único objectivo: proporcionar, durante este período, a melhor alimentação e as condições mais apropriadas a um ser que está milagrosamente a ser formado dentro de nós.
É uma avalancha tão grande de sentimentos que tudo se torna difícil de verbalizar e, por vezes, sentimos uma estranha solidão que nos surpreende nas horas mais improváveis. Talvez seja o tal amor de que Camões falava, “aquele” que nos faz andar sozinhos no meio da multidão.
É um tempo muito especial, vivido com muita intensidade, mas é também um estado de alma muito conturbado e, por isso, é que concordo plenamente com leccionação de educação sexual nas escolas. Para assumir uma maternidade ou paternidade, é fundamental estarmos preparados e não me parece que uma adolescente de 14 anos possa estar emocionalmente preparada para enfrentar, muitas vezes sozinha, uma gravidez. Não é fácil lidar com enjoos a toda a hora, sentirmo-nos limitadas quando nos deslocamos a algum lado (há sempre riscos para o bebé: o fumo do tabaco, a poluição ambiental, a alimentação dos restaurantes…), preocuparmo-nos em localizar de imediato uma casa de banho (não vá ela ser necessária quando menos esperamos) ou sentirmos que a nossa capacidade de resposta às dificuldades e desafios do quotidiano diminui, porque andamos desgastadas, instáveis e desconfortáveis. Para agravar a situação, as caixas de supermercados para grávidas têm sempre filas intermináveis (em pouco diferem das outras) e nos transportes públicos só muito raramente é que nos cedem lugar.
É bem verdade que quando um filho é realmente desejado, quaisquer desventuras são irrisórias, mas quando não é, nem a mãe nem o filho usufruirão do verdadeiro conceito de Natal e estarão a negar-se a eles próprios poder vir a senti-lo, alguma vez mais, na vida deles. A vida é feita de causas e de consequências e, por isso, convém vivê-la com alguma ponderação. É o nosso maior empreendimento e merece sempre ser bem-sucedido. Deste modo, neste Natal de 2005, desejo a todos os colaboradores e leitores da AFV umas festas muito felizes… com óptimas causas e melhores consequências.

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