01 maio, 2006

Livro de felicitações

in A FOLHA DOS VALENTES - Nº 350 > Abril 2006
Rubrica: Nada de Novo
> Texto: David Vieira

A partir de 1 de Janeiro deste ano, o Livro de Reclamações é obrigatório em todas as actividades de prestação de serviços de atendimento público.
O Decreto-Lei n.º 156/2005 de 15 de Setembro instituiu a sua obrigatoriedade e disponibilização afirmando que “o Livro de Reclamações constitui um dos instrumentos que tornam mais acessível o exercício do direito de queixa, ao proporcionar ao consumidor a possibilidade de reclamar no local onde o conflito ocorreu”. A criação deste livro teve por base a preocupação com um melhor exercício da cidadania através da exigência do respeito dos direitos dos consumidores.
A Escola onde trabalho, como estabelecimento de ensino particular e cooperativo, também tem a obrigatoriedade de dispor um livro desta categoria.
Há dias alguém me perguntou se o livro já tinha sido estreado. Respondi afirmativamente:
– Sim! E fui eu o primeiro a escrever.
– E qual foi a reclamação?
– Não escrevi nenhuma reclamação, mas sim uma felicitação. Dei os parabéns à Escola pelo facto de estar a cumprir a lei, disponibilizando um livro de queixa.
– Isso não vale. O livro é para registar reclamações e não felicitações…
– Tens razão. Mas ao felicitar assim a Escola, reclamei positivamente. Queixei-me da falta de um livro de felicitações.
– Para isso há remédio. Arranje um livro de ouro e coloque-o ao lado do outro. Cada um poderá reclamar ou felicitar…
Aproveitei a ideia e assim, na minha escola, ao lado do aviso obrigatório, existe um outro: “Este estabelecimento também dispõe de Livro de Felicitações”.
Isto é uma questão de educação.
Promove-se o espírito crítico, a queixa, a reclamação, a defesa dos próprios direitos. O exercício da cidadania não devia, porém, esquecer o outro aspecto: a defesa dos próprios deveres, o elogio, a gratidão, os agradecimentos, felicitações ou congratulações.
Eu acho que primeiro deveríamos aprender a felicitar e só depois a reclamar. Os nossos olhos deveriam ser mais céleres em notar o que de bom e de positivo se passa à nossa volta e só depois assinalar o resto.
Não sei qual seria a opinião de Jesus Cristo sobre este assunto. Mas tenho a impressão de que Ele repetiria o que observou junto do tesouro do Templo, ao ver uma viúva pobre deitar duas insignificantes moedas. Só Ele soube congratular-se com pequenas coisas e registá-las no livro de felicitações.

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